Rebenque e argola de alpaca mais que humilde nazarena
Um baio de tranco manso que apelidei Lua Buena
Cuido um campo como o meu, entre a fé dessas ruínas
E o que eu recorro cantando
Benzo com os ventos nas crina
Eu cuido um campo entre sete reduções
Reserva bugra de empedrado e mato fundo
Eu cuido um campo aonde ao arredor florescem grãos
E os meus irmãos, os meus irmãos sabem bem pouco do meu mundo
Eu cuido um campo, eu cuido um campo entre Deus e os que me escutam reserva a voz juntando o gado em mato fundo
E os palcos largos que me esperam um canto antigo
Rezam comigo todo o amor que devo ao mundo
Abro picadas pro gado que a muito não ia lá
E um zaino bueno que encilho, guarda pitangas no olhar
Bocal de ouro em sua raça, hoje em pilchas, couro cru
Cinchar terneiro amadrinha e às vezes corre um tatu
Pedi na reza deste campo de pingos novos
Reservo a eles meus conselhos cavalheiro
Onde as coxilhas no outono abrigam o gado, vou educá-los
Vou educá-los como pingos de guerreiro
Eu cuido um campo entre ruínas e miséria
Pele morena, pele morena, avermelhado, um Boi Tatá
Nasci num pago aonde a semente anda mudando
E o tempo sabe porque vim Maçambará
Cavalo bom, companheiro, é o que respira sereno
Engrossa o pelo no inverno e sabe a hora que enfreno
Eu seleciono tropilhas, recorredor envelheço
Respeito o campo e seu povo
E o que me toca agradeço
Nas noites claras, rezo em canto aos que me escutam
Reserva ao índio meu pedido de perdão
Também de pedra, meu cantar não se termina
Pois tenho a sina Tiaraju no suor nas mãos
Cuido um campo como meu entre a fé dessas ruínas
E o que eu recorro cantando
Benzo com o vento nas crinas